sexta-feira, 17 de julho de 2009

SONETO 40


Toma todos os meus amores, meu bem, sim, toma-os todos;

O que mais tens agora que antes já não tinhas?

Nenhum amor, meu bem, que possas chamar de amor;

A mim tinhas por inteiro, antes de me teres mais ainda.

Então, se pelo meu amor tu o recebeste,

Não posso culpar-te pelo meu amor que usaste;

Mas, mesmo culpada, se porventura te enganaste,

Por orgulho do que tu mesma recusaste.

Perdoo-te por teres me roubado, gentil ladina,

Embora roubes de mim toda a minha riqueza;

Ainda assim, o amor sabe, é uma tristeza inda maior

Suportar do amor o erro do que a injúria do desamor.

Lascívia graça, em quem todo o mal se mostra,

Mata-me com teu desprezo, mas não nos tornemos inimigos.

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